Psicóloga

O mundo está perdendo o brilho?

Lembro-me de certa vez estar em um curso e estávamos debatendo as dificuldades de nossa era, as mudanças no campo profissional, pessoal, climáticas e as questões de saúde mental, e então alguém disse que havia visto uma reportagem sobre a lua estar perdendo o seu brilho, o que nos fez chegar a seguinte questão: “o mundo está perdendo seu brilho”. 

Com essa frase em mente, comecei a refletir os impactos de nossas ações nos tempos atuais.  O fato é que nossa sociedade mudou, nossa vida anda corrida, somos atravessados pela multitarefa, pela produtividade, e também pelas influências de nossa cultura, hoje há modelo para tudo, como se deve comer, como se deve viver e como se deve ser feliz, mas o principal é: “como você deve ser produtivo”. 

Byung Chul Han, autor do livro sociedade do cansaço, diz que somos cada vez mais afetados pelo desempenho, pela performance. O resultado disso, é que nos tornamos prisioneiros de nós mesmos, buscamos resultados, sucesso, reconhecimento, mas também encontramos insatisfação, principalmente quando medimos nosso desempenho em relação ao desempenho dos outros e estamos ficando doentes, depressão, ansiedade e burnout são alguns exemplos de como estamos conseguindo lidar com tudo isso.

Palavras da moda como: “o sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo”, “tudo depende só de você”, pode levar muitos a uma crença de que alcançar seus objetivos só dependem do esforço pessoal e do próprio mérito, no entanto, cada dia mais se percebe que sempre há algo a mais para ser feito, sempre vai existir uma nova meta a ser alcançada. 

Além disso, nossa atenção está fragmentada, há excesso de estímulos, muitas informações e muitos impulsos, não há mais tempo para meditar, se aprofundar e se voltar para o seu mundo interior e quando a vida passa a ser um check-list de tarefas, a exaustão se torna presente. 

Não percebemos que estamos diante de uma enorme pressão para produzir, sofremos o preço da nossa saúde para viver nesse modelo, não permitimos mais espaço para o descanso, para  o prazer e para o tédio, e quantos não têm dificuldade de descansar e acham que o descanso é perda de tempo? Ou que tais coisas podem ser inimigos da produtividade?

Talvez alguém diga que o que falta é gestão de tempo, tempo para ser mais ativo, para ser mais engajado no trabalho, nos estudos, nos cuidados da família, mas e quando sobra tempo para se conectar com você? 

Com isso, não é de se estranhar que o mundo esteja perdendo seu brilho, lidar com excessos, preocupações, comparações, metas, tudo isso vai trazendo um certo esgotamento, é necessário repensarmos como essa produtividade está tirando de nós o “brilho” da vida, o encantamento por coisas prazerosas, por aquilo que amamos. 

Imagem: Quino

Texto por: Flavia Fauquet

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